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quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Diretor de Harvard apresenta biblioteca digital gratuita


O historiador americano Robert Darnton, 73, professor da Universidade Harvard (EUA) e diretor da biblioteca da universidade, participou ontem de seminário para jornalistas na Folha.
No encontro, Darnton -que veio ao Brasil para o 4º Congresso Internacional Cult de Jornalismo Cultural- falou sobre o projeto de criação de uma biblioteca digital americana, com acesso mundial e gratuito, que deve entrar no ar em abril de 2013. “É uma oportunidade inédita de compartilhar nossa riqueza de conhecimento.” 
Filho de jornalistas e graduado em Oxford, no Reino Unido, ele é especialista em Revolução Francesa e na história do livro e da imprensa. Entre seus trabalhos mais conhecidos estão “O Iluminismo como Negócio” (1987) e “Os Best-Sellers Proibidos da França Pré-Revolucionária” (1996), lançados no país pela Companhia das Letras.

Leia, a seguir, trechos de sua conversa com os jornalistas da Folha.

JORNALISMO IMPRESSO


Venho de uma família de jornalistas. Meu pai, minha mãe, eu e meu irmão trabalhamos no “New York Times”. Meu pai morreu no Pacífico cobrindo a Segunda Guerra. Eu não o conheci, tinha três anos.
Comecei minha carreira cobrindo crimes. Na época se dizia: “Se você consegue cobrir assuntos policiais, pode cobrir [os da] Casa Branca”.
A grande questão na vida de um repórter é como narrar uma história em 500 palavras. Ele acaba transmitindo sua experiência. Não vejo notícias como realidade, mas como histórias sobre a realidade.

INTERNET
Nos EUA a mudança é profunda. Quase toda semana um jornal morre. A maior parte da receita publicitária do “The New York Times”, por exemplo, vinha dos classificados. Quase todos esses anúncios estão on-line. Mas acho que os grandes sobreviverão. A questão é descobrir um modelo de financiamento.
O trabalho do repórter também mudou. Continuo achando que o contato pessoal de um repórter com a fonte ou o acontecimento faz uma diferença enorme. Não adianta reproduzir o que está no Twitter ou nos blogs.

BIBLIOTECA DIGITAL
Quando o Google decidiu que queria digitalizar livros, procurou Harvard primeiro, pois é a maior biblioteca universitária do mundo. O Google fez lobby com outras universidades. Eles queriam digitaliza qualquer livro, não só os de domínio público. Criaram uma base de dados gigante de livros cobertos por direitos autorais. A ideia era vender acesso às obras, a um preço que eles próprios estipulariam. Não era algo legal.
No final, o acordo foi vetado pela Justiça, que o viu como uma tentativa de monopólio.
Nesse meio tempo, convidei os dirigentes de bibliotecas para criarmos uma versão digital com milhões de livros, como o Google, mas gratuita.
Acabamos conseguindo financiamento de fundações privadas americanas -muitas vezes elas funcionam melhor do que o governo. Em abril, entra no ar uma enorme biblioteca digital que qualquer um no mundo poderá acessar sem gastar um tostão. Criar essa plataforma para partilhar conhecimento, sem empresas, está sendo a maior oportunidade da minha vida.
Os direitos autorais são um tema sensível. Teoricamente só poderemos disponibilizar obras anteriores a 1923, pois estas estão em domínio público. São 2 milhões, o que não é pouco. As demais precisam ser negociadas com os detentores dos direitos, e estamos estudando alternativas.

AMÉRICA LATINA
Hoje os olhos dos americanos estão voltados para a América do Sul e a Ásia. A nova geração está aprendendo espanhol e mandarim. Não acho que a cultura europeia tenha se exaurido de vez, mas há ventos de mudança, e a vitalidade dos dois continentes tende a ganhar influência.

FUTURO DO LIVRO
As pessoas dizem que os livros e as bibliotecas estão obsoletos. É loucura: temos mais pessoas hoje nas nossas bibliotecas do que nunca. Se o aluno tem que escrever um trabalho e fazer uma pesquisa, claro que ele usa o Google e a Wikipedia. Mas não basta. Ele procura um bibliotecário. Os bibliotecários desenvolveram uma nova função, que é guiar pelo ciberespaço.
As estatísticas contrariam aqueles que dizem que o livro impresso está acabando. Na China, a produção dobrou em dez anos. Em 2009 o planeta atingiu uma marca histórica de 1 milhão de novos títulos impressos no ano. Acho que os livros impressos e on-line não estão em guerra, são suplementares.



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