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quinta-feira, 30 de maio de 2013

Biblioteca digital oferece livros exigidos em vestibulares

Jovens e adolescentes que estão se preparando para o vestibular já têm um novo aliado. Clássicos da literatura exigidos nas tão temidas provas já podem ser baixadas gratuitamente na Biblioteca nas Nuvens: Biblioteca Pública de Literatura Digital. 

Livros clássicos da literatura portuguesa, como O Cortiço de Aluísio de Azevedo, e Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente, podem ser descarregados no computador. O processo é simples, é só escolher a obra, fazer o download e aproveitar a leitura. Além das exigências aos vestibulandos, outros livros também podem ser encontrados.

O projeto Biblioteca nas Nuvens – é fruto de um projeto de Mestrado em Ciência da Informação da Universidade Federal da Paraíba, da aluna Robéria Andrade, sob a orientação do Prof. Dr. Wagner Junqueira de Araújo.

A Biblioteca tem um diferencial, onde qualquer usuário pode acessar a biblioteca, sem a necessidade de registra-se, nem de entrar com nome e senha, o acesso é livre, a leitura é gratuita. O usuário pode realizar a leitura online ou baixar o arquivo para o dispositivo de leitura de sua preferência.

Esta biblioteca é um canal de divulgação e informação, criada com o propósito de disponibilizar na Internet o conhecimento produzido por escritores literários de forma rápida e sem fronteiras, respeitando os direitos autorais. Todas as obras disponibilizadas na Biblioteca nas Nuvens estão em Domínio Público, ou dispõe da autorização do autor.

Autores que desejarem compor o acervo é só entrar em contato. A biblioteca foi lançada com a disponibilização de 15 obras, onde esse número será acrescido aos poucos. 

Acesse, visitem, participem da pesquisa.

Sejam bem vindos!  Biblioteca nas Nuvens

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Manifesto do Fórum de Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas da Paraíba (FLITECA): reivindicações ao Prefeito e aos Vereadores da cidade de João Pessoa-PB.

O direito a igualdade de condições no acesso e produção cultural na área do livro, leitura e bibliotecas deve ser tão prioritário quanto a garantia de emprego, boa alimentação, saúde e educação, moradia, ruas saneadas e asfaltadas entre outros. 
Para uma cidade melhor é preciso acesso ao patrimônio cultural, material e humano, para todas as pessoas que nela habitam. Preservar e dar a conhecer o pensamento e a criação artística da cidade, do Estado e do País, não é favor, é direito constitucional, sem o qual não há desenvolvimento sociocultural com valorização da dignidade humana, com universalidade do acesso e respeito à diversidade cultural.
A instalação de bibliotecas públicas nas sedes dos Municípios e Distritos, por exemplo, já constava da Constituição do Estado da Paraíba de 1989 (Art. 217), entretanto até hoje a cidade não possui uma Biblioteca Pública Municipal apesar dos esforços de pessoas e entidades publicas e da sociedade civil. Dessas mobilizações e participações nas conferências de cultura, nas sessões especiais e audiências públicas da Câmara de João Pessoa resultaram na sensibilização de Vereadores e promulgação da Lei nº 10.952/2007 que institui o programa municipal de apoio à implantação de bibliotecas e na Lei 12.025/2011, que cria a Biblioteca Pública Central do município de João Pessoa, estando a minuta de Lei que cria o Sistema de Bibliotecas em fase de revisão jurídica, agora reforçado pela Lei Federal N° 12.244/2010 que institui a universalização das bibliotecas escolares em prazo máximo de 10 anos.
Por outro lado, para que uma lei ou uma ideia seja executada é preciso sua inclusão na pauta das prioridades do poder executivo, legislativo e judiciário da prefeitura e de suas secretarias, para seu planejamento e previsão orçamentária, que uma vez aprovada, será executada. 
Assim considerando que desde 2006 contribuímos e fizemos gestão para que o Município projetasse não apenas uma, mas um sistema de bibliotecas e polos de leitura, com acervos e profissionais qualificados, para atender os seus 733.154 habitantes e as 95 escolas da rede pública e extensivo as escolas privadas, reivindicamos: A urgente implantação da Biblioteca Pública Municipal e do Sistema Municipal de Bibliotecas que coordenará as atividades das Bibliotecas Escolares, públicas e privadas, e apoie as iniciativas já existentes nas comunidades e/ou desenvolvidas por ONGs e agentes de leitura. Abertas, tais Bibliotecas necessitam de qualificação de seus serviços e atuação integrada de diferentes agentes: Gestores culturais, Bibliotecários, Auxiliares de Bibliotecas, Agentes de Leitura, Pedagogos, Escritores, Livreiros e Editores; Concurso Público para Bibliotecário para atuação nas Bibliotecas públicas e escolares; Criar e implantar o Plano Municipal do Livro, Leitura, Literatura e Biblioteca - PMLLLB.

João Pessoa, 25 de maio de 2013.

Desdobramentos digitais: a autopublicação na Saraiva e as ‘fan fics’ na Amazon americana

28/05/13 Por Raquel Cozer

Faz quase cem dias que “Mnemônica, Memorização e Aprendizado”, de Miguel Angel Perez Corrêa, oscila entre os mais vendidos da loja brasileira da Amazon, tendo chegado ao topo da lista um tanto de vezes. O livro saiu pela plataforma de autopublicação Kindle Direct Publishing, que dá ao autor 35% do valor da venda da obra –ou 70%, se escolher vender só pela Amazon. “Mnemônica” está sendo vendido a R$ 5,99, e títulos em primeiro lugar na Amazon até outro dia vendiam uma média de uns 50, 60 exemplares por dia. Vocês façam suas contas.

Hoje foi a vez de a Saraiva entrar no segmento, como reparou o Revolução Ebook. A livraria estreou em sua loja de livros digitais a ferramenta publique-se, oferecendo ao autor o mesmo percentual de 35% sobre o valor de venda do livro –que ele mesmo pode definir.

O interessado se cadastra e recebe um contrato em minuta já registrada em cartório. Assim que a administração do site recebe de volta o documento assinado pelo autor, ele pode fazer upload dos PDFs de todos os seus livros, que são convertidos para ePub.  “Fazemos o contrato pelas leis brasileiras, o que preserva os direitos dos autores. Se houver alguma pendência, é no Brasil que será resolvido”, diz o diretor-presidente da Saraiva, Marcílio Pousada, ressaltando uma diferença em relação à Amazon e à Apple, que oferecem serviços similares.

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A maior rede de livrarias nacional tem ainda cartas na manga para os próximos meses.

Uma delas vai aproveitar a experiência da empresa na edição de livros, já que a Saraiva tem seu braço editorial. É algo que o Clube dos Autores e algumas editoras que imprimem sob demanda já fazem: o interessado pode pagar à parte por serviços como correção ortográfica, preparação de texto, sinopse, capa mais elaborada que a padrão. Valores ainda não divulgados.

A outra aposta da Saraiva vai ser mais difícil Amazon, Apple, Clube dos Autores e outros sites baterem, e diz respeito àquela que já é a maior moeda de troca da rede nacional em negociações com editoras: as 105 lojas da livraria espalhadas por 17 Estados. Além de imprimir sob demanda, a Saraiva abrirá suas lojas para tardes de autógrafos dos independentes, tal como já faz com editoras. Serviço pago, com toda a estrutura dos lançamentos oficiais, incluindo o vinho branco. Coisa para os próximos três, quatro meses, segundo Pousada.

Somente hoje, sem o anúncio oficial, apenas com o link para a página do publique-se na loja virtual, 150 autores se cadastraram para receber o contrato. Trinta e cinco livros devem subir no ar entre amanhã e depois, segundo Pousada.

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Outra novidade destes dias, sobre a qual comentei no Painel das Letras, foi uma sacada meio de gênio da Amazon americana, o Kindle Worlds. Agora que já fizeram parece até que demorou, mas ninguém tinha pensado em capitalizar as “fan fics”, histórias não autorizadas elaboradas por fãs a partir de universos e personagens criados por romancistas famosos.

O primeiro passo foi o que na teoria seria o mais difícil: conseguir autorização da versão em inglês de três títulos, todos pertencentes à Warner Bros, “Maldosas”, de Sara Shepard;  “Diários do Vampiro”, de L.J. Smith; e “Gossip Girl”, de Cecily von Ziegesar.

Com isso, a partir de junho, quando sair a ferramenta, fãs poderão não apenas criar histórias em cima dessas tramas –e de outras a serem autorizadas– como, mais importante, colocar para vender. O autor da trama paralela vai levar 35% do valor da venda. O detentor dos direitos da história original leva sua parte também, não divulgada. A Amazon, mesmo que as fan fics não vendam nada,  não tem nada a perder. A princípio, vai valer só nos EUA.

Fonte: Folha Uol

Antonio Cândido indica 10 livros para conhecer o Brasil

13.05.17_Antonio Candido_10 livros para conhecer o Brasil

Por Antonio Candido.*

Quando nos pedem para indicar um número muito limitado de livros importantes para conhecer o Brasil, oscilamos entre dois extremos possíveis: de um lado, tentar uma lista dos melhores, os que no consenso geral se situam acima dos demais; de outro lado, indicar os que nos agradam e, por isso, dependem sobretudo do nosso arbítrio e das nossas limitações. Ficarei mais perto da segunda hipótese.

Como sabemos, o efeito de um livro sobre nós, mesmo no que se refere à simples informação, depende de muita coisa além do valor que ele possa ter. Depende do momento da vida em que o lemos, do grau do nosso conhecimento, da finalidade que temos pela frente. Para quem pouco leu e pouco sabe, um compêndio de ginásio pode ser a fonte reveladora. Para quem sabe muito, um livro importante não passa de chuva no molhado. Além disso, há as afinidades profundas, que nos fazem afinar com certo autor (e portanto aproveitá-lo ao máximo) e não com outro, independente da valia de ambos.

Por isso, é sempre complicado propor listas reduzidas de leituras fundamentais. Na elaboração da que vou sugerir (a pedido) adotei um critério simples: já que é impossível enumerar todos os livros importantes no caso, e já que as avaliações variam muito, indicarei alguns que abordam pontos a meu ver fundamentais, segundo o meu limitado ângulo de visão. Imagino que esses pontos fundamentais correspondem à curiosidade de um jovem que pretende adquirir boa informação a fim de poder fazer reflexões pertinentes, mas sabendo que se trata de amostra e que, portanto, muita coisa boa fica de fora. 

São fundamentais tópicos como os seguintes: os europeus que fundaram o Brasil; os povos que encontraram aqui; os escravos importados sobre os quais recaiu o peso maior do trabalho; o tipo de sociedade que se organizou nos séculos de formação; a natureza da independência que nos separou da metrópole; o funcionamento do regime estabelecido pela independência; o isolamento de muitas populações, geralmente mestiças; o funcionamento da oligarquia republicana; a natureza da burguesia que domina o país. É claro que estes tópicos não esgotam a matéria, e basta enunciar um deles para ver surgirem ao seu lado muitos outros. Mas penso que, tomados no conjunto, servem para dar uma ideia básica.

Entre parênteses: desobedeço o limite de dez obras que me foi proposto para incluir de contrabando mais uma, porque acho indispensável uma introdução geral, que não se concentre em nenhum dos tópicos enumerados acima, mas abranja em síntese todos eles, ou quase. E como introdução geral não vejo nenhum melhor do que O povo brasileiro (1995), de Darcy Ribeiro, livro trepidante, cheio de ideias originais, que esclarece num estilo movimentado e atraente o objetivo expresso no subtítulo: “A formação e o sentido do Brasil”.

Quanto à caracterização do português, parece-me adequado o clássico Raízes do Brasil (1936), de Sérgio Buarque de Holanda, análise inspirada e profunda do que se poderia chamar a natureza do brasileiro e da sociedade brasileira a partir da herança portuguesa, indo desde o traçado das cidades e a atitude em face do trabalho até a organização política e o modo de ser. Nele, temos um estudo de transfusão social e cultural, mostrando como o colonizador esteve presente em nosso destino e não esquecendo a transformação que fez do Brasil contemporâneo uma realidade não mais luso-brasileira, mas, como diz ele, “americana”. 

Em relação às populações autóctones, ponho de lado qualquer clássico para indicar uma obra recente que me parece exemplar como concepção e execução: História dos índios do Brasil (1992), organizada por Manuela Carneiro da Cunha e redigida por numerosos especialistas, que nos iniciam no passado remoto por meio da arqueologia, discriminam os grupos linguísticos, mostram o índio ao longo da sua história e em nossos dias, resultando uma introdução sólida e abrangente.

Seria bom se houvesse obra semelhante sobre o negro, e espero que ela apareça quanto antes. Os estudos específicos sobre ele começaram pela etnografia e o folclore, o que é importante, mas limitado. Surgiram depois estudos de valor sobre a escravidão e seus vários aspectos, e só mais recentemente se vem destacando algo essencial: o estudo do negro como agente ativo do processo histórico, inclusive do ângulo da resistência e da rebeldia, ignorado quase sempre pela historiografia tradicional. Nesse tópico resisto à tentação de indicar o clássico O abolicionismo (1883), de Joaquim Nabuco, e deixo de lado alguns estudos contemporâneos, para ficar com a síntese penetrante e clara de Kátia de Queirós Mattoso, Ser escravo no Brasil (1982), publicado originariamente em francês. Feito para público estrangeiro, é uma excelente visão geral desprovida de aparato erudito, que começa pela raiz africana, passa à escravização e ao tráfico para terminar pelas reações do escravo, desde as tentativas de alforria até a fuga e a rebelião. Naturalmente valeria a pena acrescentar estudos mais especializados, como A escravidão africana no Brasil (1949), de Maurício Goulart ou A integração do negro na sociedade de classes (1964), de Florestan Fernandes, que estuda em profundidade a exclusão social e econômica do antigo escravo depois da Abolição, o que constitui um dos maiores dramas da história brasileira e um fator permanente de desequilíbrio em nossa sociedade.

Esses três elementos formadores (português, índio, negro) aparecem inter-relacionados em obras que abordam o tópico seguinte, isto é, quais foram as características da sociedade que eles constituíram no Brasil, sob a liderança absoluta do português. A primeira que indicarei é Casa grande e senzala (1933), de Gilberto Freyre. O tempo passou (quase setenta anos), as críticas se acumularam, as pesquisas se renovaram e este livro continua vivíssimo, com os seus golpes de gênio e a sua escrita admirável – livre, sem vínculos acadêmicos, inspirada como a de um romance de alto voo. Verdadeiro acontecimento na história da cultura brasileira, ele veio revolucionar a visão predominante, completando a noção de raça (que vinha norteando até então os estudos sobre a nossa sociedade) pela de cultura; mostrando o papel do negro no tecido mais íntimo da vida familiar e do caráter do brasileiro; dissecando o relacionamento das três raças e dando ao fato da mestiçagem uma significação inédita. Cheio de pontos de vista originais, sugeriu entre outras coisas que o Brasil é uma espécie de prefiguração do mundo futuro, que será marcado pela fusão inevitável de raças e culturas.

Sobre o mesmo tópico (a sociedade colonial fundadora) é preciso ler também Formação do Brasil contemporâneo, Colônia (1942), de Caio Prado Júnior, que focaliza a realidade de um ângulo mais econômico do que cultural. É admirável, neste outro clássico, o estudo da expansão demográfica que foi configurando o perfil do território – estudo feito com percepção de geógrafo, que serve de base física para a análise das atividades econômicas (regidas pelo fornecimento de gêneros requeridos pela Europa), sobre as quais Caio Prado Júnior engasta a organização política e social, com articulação muito coerente, que privilegia a dimensão material. 

Caracterizada a sociedade colonial, o tema imediato é a independência política, que leva a pensar em dois livros de Oliveira Lima: D. João VI no Brasil (1909) e O movimento da Independência (1922), sendo que o primeiro é das maiores obras da nossa historiografia. No entanto, prefiro indicar um outro, aparentemente fora do assunto: A América Latina, Males de origem (1905), de Manuel Bonfim. Nele a independência é de fato o eixo, porque, depois de analisar a brutalidade das classes dominantes, parasitas do trabalho escravo, mostra como elas promoveram a separação política para conservar as coisas como eram e prolongar o seu domínio. Daí (é a maior contribuição do livro) decorre o conservadorismo, marca da política e do pensamento brasileiro, que se multiplica insidiosamente de várias formas e impede a marcha da justiça social. Manuel Bonfim não tinha a envergadura de Oliveira Lima, monarquista e conservador, mas tinha pendores socialistas que lhe permitiram desmascarar o panorama da desigualdade e da opressão no Brasil (e em toda a América Latina).

Instalada a monarquia pelos conservadores, desdobra-se o período imperial, que faz pensar no grande clássico de Joaquim Nabuco: Um estadista do Império (1897). No entanto, este livro gira demais em torno de um só personagem, o pai do autor, de maneira que prefiro indicar outro que tem inclusive a vantagem de traçar o caminho que levou à mudança de regime: Do Império à República (1972), de Sérgio Buarque de Holanda, volume que faz parte da História geral da civilização brasileira, dirigida por ele. Abrangendo a fase 1868-1889, expõe o funcionamento da administração e da vida política, com os dilemas do poder e a natureza peculiar do parlamentarismo brasileiro, regido pela figura-chave de Pedro II. 

A seguir, abre-se ante o leitor o período republicano, que tem sido estudado sob diversos aspectos, tornando mais difícil a escolha restrita. Mas penso que três livros são importantes no caso, inclusive como ponto de partida para alargar as leituras. 

Um tópico de grande relevo é o isolamento geográfico e cultural que segregava boa parte das populações sertanejas, separando-as da civilização urbana ao ponto de se poder falar em “dois Brasis”, quase alheios um ao outro. As consequências podiam ser dramáticas, traduzindo-se em exclusão econômico-social, com agravamento da miséria, podendo gerar a violência e o conflito. O estudo dessa situação lamentável foi feito a propósito do extermínio do arraial de Canudos por Euclides da Cunha n’Os sertões (1902), livro que se impôs desde a publicação e revelou ao homem das cidades um Brasil desconhecido, que Euclides tornou presente à consciência do leitor graças à ênfase do seu estilo e à imaginação ardente com que acentuou os traços da realidade, lendo-a, por assim dizer, na craveira da tragédia. Misturando observação e indignação social, ele deu um exemplo duradouro de estudo que não evita as avaliações morais e abre caminho para as reivindicações políticas. 

Da Proclamação da República até 1930 nas zonas adiantadas, e praticamente até hoje em algumas mais distantes, reinou a oligarquia dos proprietários rurais, assentada sobre a manipulação da política municipal de acordo com as diretrizes de um governo feito para atender aos seus interesses. A velha hipertrofia da ordem privada, de origem colonial, pesava sobre a esfera do interesse coletivo, definindo uma sociedade de privilégio e favor que tinha expressão nítida na atuação dos chefes políticos locais, os “coronéis”. Um livro que se recomenda por estudar esse estado de coisas (inclusive analisando o lado positivo da atuação dos líderes municipais, à luz do que era possível no estado do país) é Coronelismo, enxada e voto (1949), de Vitor Nunes Leal, análise e interpretação muito segura dos mecanismos políticos da chamada República Velha (1889-1930). 

O último tópico é decisivo para nós, hoje em dia, porque se refere à modernização do Brasil, mediante a transferência de liderança da oligarquia de base rural para a burguesia de base industrial, o que corresponde à industrialização e tem como eixo a Revolução de 1930. A partir desta viu-se o operariado assumir a iniciativa política em ritmo cada vez mais intenso (embora tutelado em grande parte pelo governo) e o empresário vir a primeiro plano, mas de modo especial, porque a sua ação se misturou à mentalidade e às práticas da oligarquia. A bibliografia a respeito é vasta e engloba o problema do populismo como mecanismo de ajustamento entre arcaísmo e modernidade. Mas já que é preciso fazer uma escolha, opto pelo livro fundamental de Florestan Fernandes, A revolução burguesa no Brasil (1974). É uma obra de escrita densa e raciocínio cerrado, construída sobre o cruzamento da dimensão histórica com os tipos sociais, para caracterizar uma nova modalidade de liderança econômica e política. 

Chegando aqui, verifico que essas sugestões sofrem a limitação das minhas limitações. E verifico, sobretudo, a ausência grave de um tópico: o imigrante. De fato, dei atenção aos três elementos formadores (português, índio, negro), mas não mencionei esse grande elemento transformador, responsável em grande parte pela inflexão que Sérgio Buarque de Holanda denominou “americana” da nossa história contemporânea. Mas não conheço obra geral sobre o assunto, se é que existe, e não as há sobre todos os contingentes. Seria possível mencionar, quanto a dois deles, A aculturação dos alemães no Brasil (1946), de Emílio Willems; Italianos no Brasil (1959), de Franco Cenni, ou Do outro lado do Atlântico (1989), de Ângelo Trento – mas isso ultrapassaria o limite que me foi dado.

No fim de tudo, fica o remorso, não apenas por ter excluído entre os autores do passado Oliveira Viana, Alcântara Machado, Fernando de Azevedo, Nestor Duarte e outros, mas também por não ter podido mencionar gente mais nova, como Raimundo Faoro, Celso Furtado, Fernando Novais, José Murilo de Carvalho, Evaldo Cabral de Melo etc. etc. etc. etc. 

* Artigo publicado na edição 41 da revista Teoria e Debate – em 30/09/2000

Antonio Candido é sociólogo, crítico literário e ensaísta.

Conheçam o Portal dos GTs da Ancib!

http://gtancib.fci.unb.br/

VIDA DE BIBLIOTECÁRIA

"Ontem, descobri por acaso no youtube, está entrevista intitulada “VIDA DE ...... BIBLIOTECÁRIA”. Até onde pude perceber é uma "série" semanal da televisão digital Viamax, da NET de Florianópolis, onde eles entrevistam diferentes profissionais.
O vídeo que disponibilizo para vocês é um depoimento da bibliotecária Daniela Spudeit, ela trabalha no SENAC de Florianópolis e também é professora universitária, apresenta com muita propriedade a profissão de Bibliotecário de maneira muita clara e muito completa. Em dez minutos ela consegue contemplar os diferentes campos de atuação profissional e a diversificação de trabalhos desenvolvidos em bibliotecas e unidades de informação. Vale a pena ver o vídeo!"



Fonte: Fabíola Bezerra, via facebook.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

ASSOCIAÇÃO PROFISSIONAL DE BIBLIOTECÁRIOS DA PARAÍBA


C O N V I T E
A Associação Profissional dos Bibliotecários da Paraíba – APBPB tem a honra convidar a todos (as) para I Plenária da área do Livro, Leitura, Literatura e Biblioteca de João Pessoa, PB. Encontro que discutiremos a Lei 12.244/2010 na Prefeitura de João Pessoa, o Plano de Livro, Leitura, Literatura e Biblioteca e Sistema Municipal de Bibliotecas Públicas – SIMUB. Realizaremos também a votação, chapa única, da eleição da APB-PB.
Plenária da área do Livro, Leitura, Literatura e Biblioteca de João Pessoa – PB, será realizada no Centro de Capacitação dos Professores da PMJP (CECAPRO), na AV. Beira Rio, 2727 – Expedicionários (próximo ao hospital da UNIMED) no dia 25 de maio de 2013, as 08:30 horas. No dia teremos a filiação de novos associados, que ganharão um curso de noções de Gestão Eletrônica de Documentos (GED) no ato da inscrição.

Agradecemos vossa presença antecipadamente e aguardamos sua confirmação através do tel. (83) 8826 4389 ou e-mail: mpfrodrigues@hotmail.com

Atenciosamente,
Jemima Marques de Oliveira
Presidente da APBPB

quarta-feira, 15 de maio de 2013

10 dicas para autores iniciantes (e algumas editoras também)


O objetivo deste texto é propor uma breve reflexão sobre os caminhos da  auto-publicação e outros modelos de publicação, para que o escritor iniciante, esclarecido, tome decisões conscientes antes de lançar suas obras.
(Estas dicas são de autoria de Andréa Biancovilli, sócia proprietária da Editora Biancovilli)
Escritores podem ser românticos por natureza, mas, na hora de traçar os planos de produção, distribuição e divulgação de suas obras, têm que colocar os pés no chão e pesar os prós e os contras dos diversos modos de publicação existentes. Ainda mais hoje, em que não existem só dois lados de uma moeda (auto-publicação de um lado, editoras de outro), existe um universo de opções, e ele está em expansão.
Quem já experimentou os dois lados da antiga moeda editorial sabe que publicar um livro, seja como for, requer estudo e planejamento, portanto, os pontos abaixo servem de auxílio para o escritor estudar o mercado e algumas de suas opções, antes de decidir seus caminhos (que, aliás, não precisam se limitar a um só, sendo a experimentação essencial):
1) Royalties, Creative Commons, Patrocínios, ou outros?
Pense se a obra será: comercializada somente por você ou em parceria com outra pessoa ou empresa; comercializada por você, em parceria direta com livrarias e distribuidoras; comercializada em parceria com editoras; totalmente gratuita e desvinculada de qualquer pessoa ou empresa; gratuita, mas vinculada a livrarias, editoras ou patrocinadores; ou se vai criar uma mistura de modelos ou um modelo novo. Estude as opções existentes (e continue estudando sempre, porque o mercado de livros está em plena evolução). Conheça o sistema de royalties de livrarias, distribuidoras e editoras, as cláusulas contratuais da Creative Commons, e como conquistar patrocínios. Dependendo do seu perfil, uma opção pode ser mais válida do que a outra, ou podem ainda inspirar a criação de misturas ou modelos novos.
2) Digital, impresso, ou os dois?
Pesquise as opções existentes para o livro digital e impresso. Você já decidiu se o seu livro vai ser um epub2 ou 3, um app, um livro site, um livro impresso, ou mais de uma dessas opções? Se ainda nem sabe o que são, o seu planejamento ainda vai precisar de bastante dedicação sua.
3) Independência de opinião e ação
Pese na balança: a sua independência total de um lado, e o seu possível isolamento de outro (neste caso, principalmente se você não tem muito tempo livre para se dedicar à divulgação da obra). Alguns livros podem cair na graça dos leitores sem muito esforço, mas, via de regra, é preciso trabalho árduo para fazê-lo conhecido do público. Se você tem bastante tempo livre e criatividade, ser auto-publicado pode ser a melhor opção para o seu perfil, mas lembre-se que a publicidade é a alma do negócio, e se você não se dedicar à divulgação do livro, ninguém saberá de sua existência, seja o livro gratuito ou pago. Por outro lado, converse com algumas editoras e conheça o tipo de relacionamento que desenvolvem com os autores. Algumas podem ser mais rígidas e tradicionais, outras mais abertas ao diálogo.  Pesquise. Saiba o que cada uma teria a oferecer (e também se alguma teria interesse na sua obra).
4) Poder de investimento
Faça os cálculos de quanto precisará investir para produzir a obra: ebook e impresso, tradução, revisão, ilustração, publicidade e marketing, assessoria de imprensa, feiras e eventos literários, e, dependendo do formato escolhido, inclua também narração e musicalização. Independente do seu poder de investimento, rede de relacionamentos ou tempo disponível, haverá sempre uma solução para você, basta você se esforçar. Mas não se limite à sua conta bancária atual. Pense grande e trabalhe com afinco. A realização dos seus objetivos só depende de você.
5) Estrutura de distribuição
Cadastre-se com antecedência, se optou pelo ebook, nas distribuidoras e livrarias escolhidas por você, se mais de uma. Alguns cadastros podem ser demorados, então não deixe para a última hora. Além disso, baixe os aplicativos de leitura e teste os ebooks antes do lançamento: veja se precisam de revisões, e saiba utilizá-los para responder as dúvidas de seus leitores. Se os livros forem impressos, faça uma lista das livrarias em que vai deixar os livros em consignação, e monte um calendário de entrega e recolhimento dos exemplares. Se estiver em parceria com uma editora, você não terá que fazer nada disso, mas, mesmo assim, faça um acompanhamento de onde estão sendo vendidos os seus livros.
6) Lançamentos presenciais
Se o seu livro é digital e o seu objetivo é vendê-lo, veja se valerá a pena um lançamento presencial, dentro de uma livraria, um evento literário ou tecnológico. Talvez o melhor, neste caso, seja investir em marketing digital, onde está, afinal de contas, o seu público leitor. Mas, se o seu livro é gratuito e o seu objetivo é obter prestígio na sua área de atuação, ministrar palestras pode ser uma opção mais apropriada. Mais uma vez, tudo vai depender do seu estilo e intenção.
7) Parcerias estratégicas
Outras pessoas ou empresas podem estar querendo trocar figurinhas com você, por isso, invista algum tempo negociando parcerias estratégicas, e veja o que pode oferecer em troca. Montar uma apresentação em PDF, marcar um Skype, tudo isso pode ser feito sem custo para conversar com outras pessoas e aumentar a sua rede de relacionamentos e parcerias. Mas lembre-se que se o seu livro fala sobre abelhas, você pode tanto procurar os apicultores ou ONGs que defendem as abelhas dos apicultores. Economize o seu tempo. Procure as pessoas e empresas certas.
8) Divulgação
Independente do modelo escolhido, o seu livro vai precisar de divulgação. Planeje sozinho, ou converse com os seus parceiros escolhidos, quanto tempo e dinheiro serão investidos neste item. Se você optou pela auto-publicação e não tem dinheiro para fazer a divulgação, criar um blog, páginas em redes sociais, dar palestras e participar de eventos em geral são ações de custo zero e que geram bons resultados. Avalie as variáveis e monte o seu plano de divulgação. Mesmo que o seu objetivo seja entregar a obra gratuitamente ao público, gaste algum tempo com divulgação, ou corra o risco de que a obra não chegue ao conhecimento do público que você quer beneficiar com o seu texto.
9) Tempo/conveniência
O tempo é valioso, não é à toa que dizem que tempo é dinheiro. Portanto, queira ou não queira lucrar com os livros, analise o tanto de tempo que você terá que despender na produção e pós-produção dos livros, ainda mais se pretende lançar vários livros. Converse com escritores, livreiros e editores experientes. Não se dê por satisfeito com uma única opinião. Pese os prós e os contras, e saiba como quer gastar o seu tempo.
10) Novos horizontes
Esteja sempre aberto a novas possibilidades e conexões. Mesmo depois de ter feito o seu planejamento, novas possibilidades vão continuar surgindo, pelas mudanças do mercado e pela sua criatividade e prática. Portanto, esteja sempre com um pé no chão e um olho no horizonte, de olho nas novidades sempre!

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Economia criativa e perspectivas para pequenas editoras


POR EDNEI PROCÓPIO

Acima de questões como interface, acesso, quantidade e distribuição de exemplares digitais talvez esteja aquela que irá forjar o verdadeiro e novo mercado editorial: a questão da precificação dos livros.

Eduardo Melo, da Simplíssimo Livros, ensinou-me como traçar um paralelo entre a crise econômica mundial atual e o fortalecimento do mercado de eBooks através da popularização do preço de capa dos livros. Aprendi, em uma de suas palestras, que crises econômicas mundiais geralmente influenciam diretamente no consumo dos livros. Desde as Primeira e Segunda Guerra Mundial, passando pelas primeiras crises do petróleo [1972 e 1975], houve alteração no preço de capa do livro na versão paperback que, inclusive, culminou com a criação do livro, impresso, em formato pocketbook, mais barato e acessível que o seu antecessor.

Refletindo um pouco mais sobre o assunto, tal tese me fez concluir que, se realmente existe um reflexo paralelo no consumo dos livros em época de crises econômicas, os contextos econômicos mundiais influenciam diretamente no consumo de produtos culturais de maneira ainda mais intensa em comparação a outros mercados, tornando-os assim ainda mais acessíveis. E a tendência, no Brasil, é que haja uma ascensão na quantidade e qualidade de títulos disponíveis, a preços bem populares, tal qual ocorreu com o mercado de aplicativos para dispositivos móveis.

O mercado econômico brasileiro, porém, de um modo geral deve passar, em minha opinião, por mais uma forte retração futura que influenciará mais uma vez no rumo do mercado editorial, antes que haja uma consolidação efetiva do consumo de eBooks no país.

As perspectivas para os eBooks pelo mundo não diferem do nosso país uma vez que vivemos uma época de economias globalmente interligadas. O que nós sabemos é que multinacionais como Kobo, Google e Amazon continuarão influenciando os mercados regionais na tentativa expandir ainda mais os seus domínios e consolidar suas marcas. O que ainda falta saber é como pequenas e médias empresas editoriais, regionais, irão sobreviver a uma ruptura no mercado de consumo marcada por uma falta de regulamentação dos Governos que, em tese, poderia até talvez sair em defesa de suas empresas internas.

Por trás de toda a revolução em andamento causada principalmente pelo advento e avanço da Internet, ainda existem as leis que regem o livre mercado, a livre concorrência. Mas creio poder ainda assim haver sim um estabelecimento de parâmetros mínimos para o mercado, para dar respaldo a toda cadeia produtiva do livro, embora não fosse possível influenciar diretamente em cada um dos novos modelos de negócios que estão sendo testados pelo próprio mercado. Assim, o que resta ainda saber é de que modo pequenas e médias empresas podem sobreviver encontrando caminhos alternativos. Apenas com criatividade e empreendedorismo?

A tecnologia na interface dos livros
Um dos itens que mais poderão influenciar o rumo do mercado de livros nesta economia criativa de escala global, sem sombra de dúvida é a tecnologia já que esta superou por si mesma os limites de adoção perante o mercado consumidor.

Dispositivos de uma variedade impressionante de tamanhos, pesos, espessura e desempenho fazem hoje parte do dia-dia de milhares de usuários que consultam simultaneamente informações sobre o trânsito, o clima, a cotação do dólar, etc., em tempo real aos acontecimentos diários de suas vidas nas cidades. Nenhum acontecimento público de elevada proporção fica sem o registro imediato de centenas de testemunhas que, ainda mais rápido que a imprensa, divulgam ocorrências em vídeos, fotos e áudios numa escala quase que desproporcional ao nível de consumo destas mesmas informações. Tudo isso através de uma gigantesca rede social chamada Internet.

Algo bastante importante a ser levada em conta neste contexto é a questão da interface entre o leitor e o conteúdo do livro. Esta interface pode estar atrelada tanto ao conteúdo, por conta da diagramação dos livros utilizando as ricas plataformas de autoria e edição; mas podem estar também atrelada às limitações técnicas ou possibilidades do próprio dispositivo onde o livro será lido. Certo, porém, é afirmar que o aplicativo é o limite entre o conteúdo e o dispositivo.

Vencida a questão primária de um modelo de negócios sustentável, uma empresa de mídia editorial precisa focar os seus esforços em criar uma interface no mínimo padrão tanto para a criação quanto para o consumo dos livros.

Os livros tem, a seguir, que conquistar um novo espaço na agenda diária dos consumidores modernos que podem optar por uma leitura talvez mais lenta, mais íntima, mais densa. Para alcançar o leitor disposto a trocar algumas horas de seu dia pela leitura de um eBook, o mercado editorial deverá buscar a diversidade.

O novo leitor baixa cerca de dois mil aplicativos por segundo através da Internet e, para superar o desafio da escalabilidade de conteúdo versus qualidade editorial, se faz necessário o foco nos negócios voltados a uma rica bibliodiversidade. A diversidade de conteúdo, de catálogo, de títulos, de novos autores e novas conversas, que possam atrair a atenção deste novo leitor um tanto mais disperso, é um dos caminhos para os pequenos negócios. Talvez deste desafio renasça um novo e próspero período para todo o mercado editorial, antes mal acostumado, e acomodado, com o antigo sistema de produção de obras em versão impressa.

Livros via interfaces
O Brasil já alcançou mais de 250 milhões de linhas telefônicas para celulares. Pelo menos 20% deste efetivo vem de linhas chamadas pós-paga; próximo dos 10% temos as chamadas linhas 3 ou 4G.

Uma tecnologia básica, no entanto, atinge quase que 100% dos clientes das operadoras que oferecem serviços de telefonia em nosso país: os serviços de SMS. Embora o número de dispositivos smartphones tenha superado o de aparelhos celulares mais simples, mensagens curtas, de no máximo 140 letras ou caracteres [inspiração para o Twitter, inclusive], poderiam eventualmente servir para o tráfego de literatura [e-shorts stories] através dos celulares.

O mercado de mídia está sempre na fronteira da alta tecnologia, e na dependência do que realmente é utilizado pela maioria dos usuários. Estágios intermediários entre eles podem configurar, com uma boa dose de criatividade, possibilidades inúmeras nos campos da publicação, comercialização e divulgação dos livros.

Para os celulares, aparelhos mais simples que os smartphones, ao contrário do Japão, por exemplo, não houve o desenvolvimento, no Brasil, de um case de sucesso que usasse a transmissão de textos literários utilizando a tecnologia SMS. Antes de fundar a Simplíssimo Livros, o próprio Eduardo Melo esteve envolvimento com um projeto que pudesse suprir este tipo de carência.

Enquanto tecnologias novas de comunicação através de aplicativos como WhatApp e Skype vão se tornando populares e onipresentes, a tecnologia SMS poderia ser usada para a publicação de micro narrativas, haicais, salmos, e uma infinidade de frases de efeito utilizadas em livros de autoajuda, por exemplo. É claro que ler um texto na tela de um celular, antes dos aparelhos ganhar um aumento no ganho de tela, era um sacrifício. Mas, com a melhora na legibilidade das écrans, tornou-se possível, por exemplo, usar esta tecnologia básica para a divulgação de livros e escritores.
Mesmo não sendo tecnologicamente possível o tráfego de livros inteiros utilizando a transmissão SMS, é possível utilizar-se desta plataforma já amplamente difundida para atrair a atenção de milhares de leitores antes um tanto indecisos, para não dizer perdidos, com relação a escolha do seu próximo livro.

E este é apenas um exemplo de como enxergar de um modo mais amplo o mercado de livros como um mercado de conteúdo voltado para o digital. A ideia é usar toda a tecnologia existente como um meio para se levar livros às pessoas. E os meios tecnológicos formam a interface entre os dispositivos e os conteúdos por escritores criados.

O livro, enfim, está livre
Os novos negócios para as editoras brasileiras neste sentido é, no presente, o cerne de um cenário esplêndido de oportunidades. Se, no passado, o suporte papel assumia o modo como entregávamos os nossos livros, agora esse modo de entrega se dá através de uma infinidade de écrans em uma miríade de suportes e dispositivos digitais. O livro finalmente superou a mídia, e está agora disponível para além das mídias.

E, estando livre, o livro pode ser melhor explorado por escritores, editoras e leitores. A exploração comercial, por sua vez, pode alcançar um patamar de audiência nunca antes atingido pelo mercado editorial convencional, que sempre se restringiu e limitou-se a logística de um suporte caro, pesado e inacessível. Muito pouco democrático, inclusive para as pequenas editoras.

Neste cenário do livro além do livro, o maior desafio é manter a escala de consumo dos títulos digitais acima da média em número de exemplares comprados, já que o preço de capa das obras estará abaixo dela. Superadas às limitações técnicas, de bibliodiversidade, de política precificatória, o eBook terá finalmente se consolidado como uma mídia rica, e interativa, em todos os sentidos para o leitor final.

Fonte: eBook Reader

O mundo que lê


Entrevista com Roger Chartier | Edição 177 em Janeiro/2012

A humanidade nunca leu tanto quanto hoje. Por um lado, a era digital faz com que os textos estejam mais disseminados. De outro, a população mundial é cada vez mais alfabetizada. Nesse cenário, descrito pelo historiador francês Roger Chartier, é papel da escola ensinar aos jovens que existem diferentes formas de ler para diferentes necessidades. E, se as salas de aula devem incorporar a presença de computadores, internet e tablets como ferramentas, também é fundamental que os professores continuem a trabalhar a leitura de livros clássicos. "Não porque eles são 'clássicos', mas porque, com outros, mas talvez melhor do que outros textos, ajudam a pensar sobre o mundo, natural ou social, a compreender as relações com os outros, a fazer as perguntas essenciais da existência e a desenvolver uma crítica às instituições, às informações, às autoridades", defende Chartier.
Profundamente respeitado e estudado no Brasil e no mundo, Chartier é professor da Universidade da Pensilvânia e do Collège de France, diretor de estudos da École des Hautes Études en Sciences Sociales (Ehess), uma das mais importantes faculdades de história do mundo, e é considerado atualmente um dos principais pensadores no que se refere à história do livro e dos hábitos sociais de leitura. Em entrevista à repórter Carmen Guerreiro, o historiador francês fala sobre a importância das diferentes plataformas digitais para a leitura no mundo de hoje, e também frisa sua tese de que o texto muda de acordo com o meio no qual foi publicado - porque mudam também a formatação, a maneira de folhear ou fazer referências, a atenção que se exige. Além disso, o texto está sujeito ao próprio contexto de quem o lê. Para ele, classe social, idade, sexo, religião e outras características são fundamentais para determinar que tipo de leitura uma pessoa fará de um texto. Chartier lembra, no entanto, que na escola a leitura não pode ser reduzida a "exigências utilitárias". "Os livros devem também fazer sonhar, divertir, permitir a reflexão, desenvolver o espírito crítico", afirma.

Unesco / Edson Fogaça

 O senhor defende que a leitura é muito pessoal e que seu significado depende do formato em que ela se apresenta e da interpretação que se dá ao texto. O que isso significa? 
Toda leitura é um encontro entre um texto e um leitor. Mas, por um lado, o texto lido está sempre em um meio físico de escrita (um livro, uma revista, uma tela), o que contribui para o seu significado. Neste sentido, podemos dizer que formas materiais de escrita afetam o significado dos textos. Esta é a forma do objeto escrito, do formato do livro, do layout, da presença ou não da imagem, etc. Por outro lado, a liberdade de interpretação de cada leitor depende das habilidades, hábitos, normas e práticas de leitura que ele ou ela compartilha com outros leitores que pertencem à mesma "comunidade de leitura", definida por classe social, idade, sexo, religião, etc. A partir daí, surge a ideia de que um texto se transforma. Mesmo que ele não mude em sua literalidade, ao mudar de formas materiais e ao mudar seus leitores - ou leituras.


Como isso funciona na escola, em que se cobra a aquisição do mesmo conhecimento de todos os alunos?
Aplicada à classe, esta perspectiva deve levar à compreensão de como a materialidade dos textos lidos (no livro, na sala de aula ou na tela do computador) ajuda a indicar o seu status, seu uso, seu significado. E também para compreender o que se espera dessa leitura particular que é a leitura na escola, diferente em suas exigências e seus ensinamentos de outras leituras, feitas em casa ou em um espaço público.

O senhor defende que a revolução do livro eletrônico é talvez mais importante do que a descoberta de Gutenberg. Por quê?
Johannes Gutenberg inventou uma nova técnica para a reprodução de texto, acrescentando ou substituindo a imprensa para a cópia do manuscrito. Mas o livro antes ou depois de Gutenberg manteve suas mesmas estruturas fundamentais: as folhas dobradas, contidas em uma encadernação ou capa, e que distribui o texto em folhas e páginas. Este tipo de livro, que nomeamos códex (ou códice), estabeleceu-se no Ocidente entre os séculos 2 e 4 d.C., quando substituiu os rolos, que foram os livros dos gregos e romanos. Com o códice permitiu-se fazer ações antes impossíveis, como escrever lendo, fazer a paginação, um índice definido, folhear um livro, comparar facilmente diferentes passagens. Mas esta primeira revolução do livro não alterou a técnica de reprodução do texto, ainda atribuída somente à cópia do manuscrito. A revolução do e-book é uma revolução técnica (como a invenção da imprensa), uma revolução da plataforma da escrita (como a invenção do códex) e uma revolução na leitura, que desafia as categorias e práticas que definem a relação com a escrita desde o século 18.

Diz-se que os jovens de hoje são desinteressados pela leitura.  Como a escola pode reverter esse quadro, levando em conta que precisa trabalhar os "clássicos" da literatura?
É seguro dizer que o diagnóstico que afirma a rejeição da leitura entre os jovens deve ser corrigido, tanto pelo sucesso de certas obras ou séries como pelo fato de que telas de computador são telas de texto. A humanidade nunca leu tanto quanto agora. Porque os textos estão em toda parte, porque a alfabetização se tornou necessária devido ao comércio e à administração, porque o mundo digital é basicamente um mundo por escrito. A questão é, portanto, a das práticas que não são mais da tradição literária ou de ensino. Daí o papel da escola. Ela deve ensinar as habilidades necessárias para nossos futuros cidadãos ou consumidores que serão confrontados com a escrita. Deve mostrar que existem diferentes maneiras de ler para diferentes necessidades. Também deve organizar a ordem dos discursos e, assim, manter o lugar dos "clássicos", não porque eles são "clássicos", mas porque, com outros, mas talvez melhor do que outros textos, ajudam a pensar sobre o mundo, natural ou social, a compreender as relações com os outros, a fazer as perguntas essenciais da existência e a desenvolver uma crítica às instituições, às informações, às autoridades.

A forma de dar aula vai mudar por conta das mudanças às quais os livros foram submetidos com o advento da plataforma eletrônica?
Não sei. O que eu sei é que as escolas devem ensinar todas as formas da cultura escrita (manuscrita, impressa, eletrônica), conscientizar os alunos de suas diferenças, e os acostumar a usar uma ou outra forma de escrever, para navegar no mundo dos textos como se faz em uma floresta. Sei também que os objetos eletrônicos inventados todos os dias representam um avanço técnico, mas também são mercadorias, que têm um custo abusivo para muitos e que geram lucros (nem sempre justificáveis por sua utilidade). É também uma lição que as escolas devem ensinar em uma crítica sobre a sociedade de consumo. Mas, é claro, um dos deveres das políticas públicas é tornar essas novas oportunidades acessíveis e familiares. Uma última coisa: nas palavras de Emilia Ferreiro, a presença de computadores ou de tablets em sala de aula não resolve por si só os problemas de aprendizagem e transmissão de conhecimentos - e, ao mesmo tempo, pode trazer a "tentação" de reduzir ou excluir o papel essencial dos professores.

Existem hoje experiências digitais com literatura, a exemplo do escritor norte-americano Robert Coover, que encabeça o movimento de "cave writing", no qual o "leitor" imerge em um ambiente 3D e interage com o cenário e personagens da história como se vivesse em seu mundo. Isso muda para sempre a forma como se faz literatura? 
As experiências de escrita eletrônica, com ou sem 3D, ainda são marginais. E isso porque, provavelmente, se um autor espera de seu leitor a compreensão da obra que ele escreveu em sua coerência, sua identidade, sua totalidade (mesmo sem ler todas as páginas), o livro impresso continua até hoje o objeto material mais adequado para permitir este reconhecimento. Como sabemos, a leitura na frente da tela é fragmentada, descontínua, combina texto e hipertexto, mas não foca a obra em si. Daí a importância ainda marginal (menos de 10% das vendas nos Estados Unidos, menos de 5% nos países europeus) do mercado do livro eletrônico no negócio de venda de livros. Mesmo os autores que praticam amplamente a escrita eletrônica (aquela de blogs, sites, redes sociais) permanecem fiéis à publicação impressa. As experiências que você menciona vão mais longe porque o texto desaparece ou pode desaparecer em favor de um espaço habitado tanto pelos personagens da ficção quanto pelo leitor. O risco não é o de matar por esse realismo do irreal um dos mistérios da literatura, ou seja, o trabalho da imaginação a partir das palavras na página? O leitor parece ser mais livre na medida em que pode intervir na história, mas o preço dessa liberdade aparente não é o da mutilação de sua imaginação, inteiramente sujeita ao espaço definido para ele pelo autor?

Qual é a importância de livros que envolvam experiências digitais hoje para a cultura da leitura?
Uma das maiores mudanças no mundo eletrônico é a possibilidade, pela primeira vez, de associar em uma única produção textos, imagens e até sons e celulares, letras ou música. A cultura escrita deve aproveitar esta oportunidade para inventar "livros" novos, tanto de ficção quando para o saber. Não devemos deixar apenas ao mercado de entretenimento, por exemplo aquele dos jogos eletrônicos, a capacidade inédita de articular diferentes linguagens em um mesmo projeto estético ou intelectual, como fazem, por exemplo, as artes do espetáculo.

No Brasil, há certa desconfiança dos professores em relação aos e-books e a outros meios de leitura eletrônica. Por que o senhor acha que isso acontece? 
Esta relutância ou resistência é muito compreensível (e ela é em parte minha também), já que o texto eletrônico desafia as categorias que definem a escrita, o livro, a obra. Quando ele é livre, gratuito, imediato, o texto eletrônico é muitas vezes coletivo, apaga o nome do autor, é fora da propriedade literária, e justapõe fragmentos. Quando se trata de escrever em forma de e-books, com textos publicados por edições que não permitem a cópia ou a impressão e que os "fecham" aos leitores, a relação é mais forte com o livro impresso, e não com a leitura descontextualizada de fragmentos, sem poder ou querer relatá-los na totalidade da qual eles fazem parte. A ruptura com a ordem da escrita que herdamos é forte e brutal, pois ela faz vacilar as noções de autor singular, de obra original e de propriedade intelectual. A consequência é, portanto, que se a escola não deve ignorar as plataformas de leitura eletrônica, ela deve ensinar seus usos e mostrar o que pode ser esperado em relação a formas mais convencionais de comunicação e publicação.

O que países como o Brasil, que ainda lutam com questões básicas como a alfabetização, podem fazer para transformar a leitura em uma prioridade?
O Brasil e outros países comparáveis fizeram ou fazem da entrada na cultura escrita de todos os seus cidadãos uma prioridade justa e necessária. Esta é a chave para que seja estabelecida uma cidadania verdadeira e a possibilidade de um desenvolvimento social e econômico. Mas saber ler e escrever não pode se reduzir a exigências utilitárias. Os livros devem também fazer sonhar, divertir, permitir a reflexão, desenvolver o espírito crítico. A escola deve mostrá-lo, assim como devem acontecer campanhas públicas de instalar o livro e a escrita no coração da cidade, por meio de feiras de livro, encontros nas livrarias, programas nos meios de comunicação visual.

Como um estudioso das tendências de leitura, qual é a sua previsão de como as crianças de hoje vão interagir com a leitura e com os livros como adultos?
Os historiadores são os piores profetas, estão sempre errados. Por isso, vou abster-me de qualquer previsão. Prefiro formular um desejo ou um sonho. Com a era digital e os textos eletrônicos, a humanidade possui uma terceira forma de composição, transmissão e apropriação da escrita, em adição aos dois precedentes: a impressão e a escrita manuscrita. Então, só podemos esperar que se estabeleça a coexistência entre essas três formas, que não correspondem nem aos mesmos hábitos de leitura, nem às mesmas necessidades da escrita. A impressão não removeu a publicação manuscrita, que sobreviveu até o século 19, e talvez mais tarde. A invenção do códice não fez os rolos desaparecerem totalmente nos tempos medievais. Por que a escrita eletrônica ou, mais genericamente, o mundo digital, deveria acabar com o controle manual da escrita, ou com as lógicas que controlam a publicação impressa de um livro, uma revista, um jornal, e que não são da web? A resposta depende, também, da nossa vontade coletiva.



quinta-feira, 2 de maio de 2013

A primeira biblioteca verde da América Latina é no Rio

Cariocas que amam leitura poderão, a partir de setembro, desfrutar de um espaço que os deixará ainda mais conscientes, inclusive do ponto de vista ambiental. Em obras desde 2008, a Biblioteca Estadual do Rio de Janeiro, na Avenida Presidente Vargas, no Centro, reabrirá suas portas como o primeiro espaço cultural da América Latina a ser abastecido por uma usina de energia solar, que vai reduzir o consumo do local em 30%.

Estruturada na cobertura do prédio, a usina fotovoltáica tem 162 placas que, através de 6 conversores, transformam a energia do sol em elétrica. Com isso, a biblioteca alcançará um patamar de eficiência energética suficiente para concorrer ao Selo de Ouro do LEED (Liderança em Energia e Design Ambiental) — a mais alta qualificação para edifícios sustentáveis.

E as iniciativas sustentáveis da biblioteca não param por aí: haverá também captação de água da chuva para o abastecimento de pias automáticas e descargas dos banheiros. Nas salas de leitura, mesas e cadeiras utilizam fibras de garrafas PET em sua confecção e os assentos são revestidos com couro vegetal. O prédio conta, ainda, com um teto verde, ecossistema sustentável que ajuda no resfriamento do ambiente. E nem a edificação passou despercebida, pois o entulho foi direcionado a recicladoras.

O prédio (em 1º plano) fica no coração da cidade. No teto, 162 painéis retangulares vão captar energia do sol | Foto: Divulgação
O prédio (em 1º plano) fica no coração da cidade. No teto, 162 painéis retangulares vão captar energia do sol | Foto: Divulgação.

“Respeitar o Meio Ambiente é uma questão cultural, pois requer consciência, acesso à informação e senso crítico”, afirma Vera Saboya, superintendente de Leitura e Conhecimento. “Por isso, entendemos que a principal biblioteca do Estado deveria se colocar no espaço público de forma que evidenciasse esses valores”, complementa.

A iniciativa é uma parceria entre o Governo do Estado e a Light, através do Programa Rio Capital da Energia, orçado em R$ 585 mil. Segundo a superintendente, o objetivo é que as demais bibliotecas públicas do Rio também sigam o modelo.

Programa educativo e visitas guiadas

Quem visitar o prédio da biblioteca depois de pronto terá uma série de motivos para sair mais informado sobre questões ligadas a sustentabilidade e Meio Ambiente.

A Biblioteca do Estado do Rio está desenvolvendo um Programa de Educação Ambiental destinado ao público, que visa discutir a temática ecológica nas mais diversas plataformas culturais. Para começar, o prédio contará com uma sala de projeção e um auditório que exibirão filmes e peças abordando assuntos da natureza.

Foto: O Dia
Arte: O Dia

Serão oferecidas, ainda, visitas guiadas que detalharão a estrutura sustentável do edifício, além da distribuição de panfletos que ensinam as crianças a se comportarem em prol do Meio Ambiente.

Estado conta com outras instituições sustentáveis

A energia renovável não é exclusividade da Biblioteca estadual. O Programa Rio Capital da Energia possui outras 34 iniciativas como essa, que contam com parcerias do Governo do Estado e empresas privadas, somando R$ 500 milhões em investimentos.

Um dos projetos é o Maracanã Solar, em que placas de captação dos raios serão colocadas na parte de cima do estádio. O sistema ocorre em parceria com a Light e, nos horários de maior incidência de luz, vai gerar uma quantidade de energia capaz de abastecer 200 residências.

Outro projeto será a construção de um prédio com 35 laboratórios na Universidade Estadual do Rio de Janeiro, que visa aumentar a infraestrutura para pesquisas em Tecnologias para Combustíveis Limpos. O esquema terá colaboração da Petrobras.

O Instituto de Traumatologia e Ortopedia do Rio de Janeiro (Into) não faz parte do Programa, mas já é figura conhecida em sustentabilidade. O prédio conta com painéis solares utilizados para o aquecimento da água de chuveiros, sistema de tratamento de esgoto, reaproveitamento de água pluvial e reciclagem do lixo. 

Fonte: O Dia matéria publicada dia 29/04/2013.