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sexta-feira, 19 de setembro de 2014

“Os livros eletrônicos hoje são uma realidade”

Conforme a pesquisa Bibliotecas e Leitura Digital no Brasil, encomendada pela Árvore de Livros S.A. (noticiado este ano pela Revista Biblioo), o impacto dos livros eletrônicos (ebooks) nas bibliotecas tem se dado de forma positivo, pelo menos do ponto de vista dos profissionais destas instituições. Nesta pesquisa, estimulados a responder sobre o que acreditam que poderá acontecer com a chegada dos ebooks às bibliotecas, a grande maioria dos bibliotecários e demais gestores (82% dos que respondera) apontaram que os dois tipos de suportes (o livro impresso e o ebook) deverão conviver juntos em harmonia. No caso das bibliotecas universitárias, esse tipo de resposta esteve na boca de 100% dos entrevistados. Apesar da ampla aceitação, ainda existem muitas dúvidas por parte dos profissionais, o que acaba por inibir os avanços deste novo instrumento de leitura. Pensando nisso, o bibliotecário do Centro de Tecnologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (CT/UFRJ), Moreno Barros, tem se dedicado a ministrar cursos sobre o tema, mostrando como eles podem funcionar nas bibliotecas, explorando questões que vão desde os formatos de arquivo, aparatos de leitura, contratos de assinatura e o seu impacto nas instituições, tanto agora como no futuro.

Como você avalia o avanço dos livros eletrônicos sobre os tradicionais impressos?
Francisco, acho que é um caminho sem volta. Obviamente que o livro impresso não vai acabar, mas o livro eletrônico está aí e veio para ficar. E seu avanço e força se dá muito mais por uma lógica de mercado do que pelo embate do fetiche entre impresso ou eletrônico. Bastou que os varejistas e editoras entrassem de cabeça nesse mercado, que certamente tem menor custo de produção e é mais lucrativo, para ditarem o ritmo. Se você pensar bem, um editor pode determinar que um lançamento seja exclusivamente digital. E o que iremos fazer? Espernear? Como consumidores, nós temos muito a ganhar, pois é uma nova modalidade de serviço e produto, e podemos reivindicar preços mais justos, distribuição mais veloz etc. O momento é esse! Mas ao mesmo tempo precisamos estar muito atento a certas práticas que cerceiam o hábito de leitura e consumo de livros digitais, como o monopólio sobre plataformas de distribuição de livros e controle sobre formatos digitais. Mas bem, no final das contas, não restam dívidas: hoje eu leio muito mais conteúdo digital (seja livros ou não) do que impresso. Eu e muitos outros “nativos digitais” já representam uma fatia significativo de um mercado e de uma cultura de consumo de informação e literatura. Falar de livros eletrônicos poucos anos atrás era um futuro distante. Hoje é realidade. Então o avanço foi enorme.

Quais as principais dúvidas dos bibliotecários quando o tema são os e-books em bibliotecas?
Os bibliotecários normalmente têm dúvidas sobre os dispositivos de leitura (kindle, kobo, ipad, tablets, smartphones), as modalidades de empréstimo de livros eletrônicos e os contratos estabelecidos com as editoras. Esses três elementos englobam quase tudo o que diz respeito a uma estratégia de adoção de ebooks em bibliotecas, de diferentes tipos. Na verdade os bibliotecários já lidam com arquivos digitais há bastante tempo (repositórios digitais e livros em pdf para download, por exemplo), mas agora existe uma demanda específica para livros eletrônicos e isso exige um planejamento. É como se você estivesse criando uma coleção nova, que precisa ser gerenciada e disseminada. Não é muito diferente do que já estamos acostumados a fazer, mas por se tratar de um formato novo, é normal que essas dúvidas apareçam. Claro, à medida que as experiências forem sendo compartilhadas, os ebooks deixarão de gerar dúvidas e passarão a ser rotina padrão das principais bibliotecas.

Que conhecimentos básicos os bibliotecários precisam ter na hora de fazer aquisição deste tipo de material?
Além de conhecer bem a demanda da sua comunidade, uma boa estratégia é o bibliotecário confrontar os benefícios dos ebooks com os impressos, uma vez que o impresso ainda é o formato prevalecente e que utilizamos como parâmetro. E isso implica em uma série de medidas, como verificação de preços, disponibilidade de títulos, possibilidade de empréstimos simultâneos, decidir se a aquisição é perpétua ou leasing, se os títulos podem ser adquiridos individualmente ou em pacote, analisar como os arquivos digitais serão hospedados e distribuídos, se os formatos são compatíveis com os diversos dispositivos de leitura disponíveis no mercado, entre outras. Na maior parte, isso vai exigir uma conversa bastante estreita com as editoras fornecedoras e o bibliotecário assegurar que está fazendo um bom negócio.

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