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domingo, 25 de novembro de 2012

Livros a até R$ 10: um balanço do programa da FBN e o anúncio da nova fase


Quem trabalha com políticas públicas costuma dizer que o mais difícil de ações na área cultural é manter a continuidade. Provam isso o programa de traduções de livros brasileiros para o exterior, com altos e baixos desde os anos 90 (atualmente em alta), e os editais das bolsas de criação literária da Funarte, que não circularam em 2011 e voltaram agora com alterações questionáveis.
Acho que mais raro é uma instituição reconhecer falhas de um programa e usar isso para melhorá-lo. Então justiça seja feita à Biblioteca Nacional, que acaba de lançar a segunda fase de seu programa de livros de baixo preço. Algumas mudanças estavam previstas, outras foram pensadas pela percepção de problemas –boa parte noticiada no Painel das Letras.
A maior bandeira de Galeno Amorim quando assumiu a presidência da FBN, no começo do ano passado, soava tão interessante ao consumidor quanto deixava empresários do ramo de cabelo em pé: estimular a produção e comercialização do livro de modo que o preço final fosse R$ 10, isso envolvendo toda a cadeia produtiva, ou seja, editores, distribuidores e livreiros.
Se a ideia fosse viável, livros a R$ 10 já seriam comuns, diziam editores –para eles, não haveria como a conta fechar, pois seria muito trabalho para uma margem de lucro irrisória. Para Amorim, era uma questão de estimular o mercado a acreditar na possibilidade, e a conta fecharia a partir do momento em que o preço mais baixo resultasse no aumento de vendas.
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No começo deste ano, a FBN lançou a primeira etapa do programa, visando a compra de livros a R$ 10 por bibliotecas, e logo veio a enxurrada de problemas. De cara, a tradutora Denise Bottmann descobriu que a editora Martin Claret havia cadastrado dezenas de livros com traduções suspeitas de plágio (comento a atual situação no Painel das Letras deste sábado: a Claret foi a terceira editora com mais livros pedidos por bibliotecas).
Inúmeras editoras não entenderam que as livrarias fariam o meio de campo. Só depois de cadastradas descobriram que não venderiam livros a R$ 10 para bibliotecas, e sim que teriam de vendê-los a até R$ 7 para livrarias, que revenderiam às instituições. Faltou consenso quanto à parcela de editoras e livrarias na negociação, e algumas destas nunca pagaram. Lojas fizeram pedidos às editoras sem encomenda anterior das bibliotecas, o que era condição do programa.
Após vários adiamentos no prazo para entrega dos livros, até o fim de setembro todas as bibliotecas devem receber seus pedidos, diz a FBN. O processo envolveu compras de 2.114 bibliotecas, intermediação de 384 livrarias e vendas de 274 editoras. Balanço da FBN aponta economia de R$ 66 milhões na aquisição de livros por bibliotecas –o preço médio até 2010, eles dizem, era R$ 44 por unidade, enquanto agora foi de menos de R$ 10.
No total, o governo gastou R$ 17 milhões. Eu me pergunto se livros vendidos a R$ 10 terão a durabilidade necessária para bibliotecas, já que em geral livros para bibliotecas precisam ter acabamento melhor. Me pergunto se esse barato não sairá caro, mas isso é só especulação.
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Uma novidade positiva do programa é passar a bibliotecários o ônus de escolher os livros de que as bibliotecas precisam, algo inédito no país –em geral, a compra é feita por comissões do governo, enquanto em países como a França cabe a bibliotecários montar seus acervos.
Acontece que muitos bibliotecários não estavam preparados, como percebeu a FBN, que agora promete um programa para formação deles. Um exemplo: entre os 20 autores com títulos mais pedidos estão Gabriel Chalita, que escreve autoajuda, e o autor de best-sellers Nicholas Sparks. A boa notícia é que a maior parte dos autores com mais títulos pedidos são importantes em bibliotecas, como Machado de Assis, José de Alencar e Monteiro Lobato. 
Se na primeira etapa as editoras cadastravam livros que queriam oferecer e só depois os bibliotecários escolhiam, na nova fase haverá uma necessária inversão de papéis: primeiro as bibliotecas listarão, cada uma, 200 títulos que gostariam de ter. Serão elencados os mil títulos mais indicados, e 400 deles serão comprados, espera-se, após negociações com editoras.
Estas se comprometerão a produzir 4.000 exemplares de cada títulos escolhido para distribuição em bibliotecas, que receberão kits, e outros 4.000 exemplares para colocação nas livrarias participantes do programa, para venda direta ao consumidor, a R$ 10. Uma novidade (que pode causar chiadeira entre livreiros) é que esta fase incluirá pontos de vendas que não sejam livrarias. Ou seja, farmácias que quiserem vender livros a R$ 10 ganharão um display para participar.
Se agora vai funcionar? Pode-se prever problemas, mas, ok, vamos dar um voto de confiança. E uma lembrança: editoras, livrarias, distribuidores e bibliotecas interessados em participar de ações futuras podem se cadastrar em www.bn.br. Isso também ajuda em mapeamento do mercado editorial, cujos dados ainda são obscuros.

Fonte: http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2012/08/10/livros-a-ate-r-10-um-balanco-do-programa-da-fbn-e-o-anuncio-de-nova-fase/

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