Por PublishNews - 11/02/2014 - Leonardo Neto
Iniciativas no âmbito digital prometem dar fôlego extra à venda de e-books no Brasil
O Censo Nacional das Bibliotecas Públicas
Municipais do Brasil, realizado em 2010 pela Fundação Getúlio Vargas
(FGV) mostrou que 79% dos municípios brasileiros têm, pelo menos, uma
biblioteca municipal. Em média, elas fazem modestos 296 empréstimos por
mês. O reflexo disso na indústria editorial, até agora, era muito
pequeno: a mesma pesquisa mostra que apenas 17% dos acervos das
bibliotecas municipais são resultado de compras, contra 83% de doações.
Mas algumas iniciativas no âmbito digital prometem mudar esse cenário.
Na manhã de hoje, os editores cariocas conheceram a novíssima Biblioteca
Xeriph, criada pela distribuidora de livros digitais de mesmo nome. O
foco é exatamente as bibliotecas municipais e corporativas. A favor do
projeto, está a cartela de clientes da Xeriph que hoje conta com 280
editoras, com catálogos bastante diversificados.
Carlos Eduardo Ernanny, diretor da Xeriph, aponta que o grande
diferencial da nova biblioteca digital é que ela não é focada ou
especializada em educação. “Somos a primeira biblioteca de e-books no
Brasil não pensada exclusivamente nos estudantes”, explica. Outras
iniciativas como Minha Biblioteca, Pasta do Professor e Árvore de Livros
[que deve entrar em operação em março] têm como foco principal escolas
ou universidades. Neste aspecto, o negócio daXeriph é mesmo diferente. O
Censo da FGV mostrou que apenas 8% das pessoas que frequentam
bibliotecas vão para lazer e é essa fatia que a Xeriph quer fazer
crescer e, depois abocanhar. “Não é que o brasileiro não lê. Ele quer
ler, mas não tem acesso ao livro”, defende Carlos Eduardo. O executivo
lembra ainda que a quantidade de bibliotecas que abrem fora do horário
comercial é irrisória. O censo da FGV fala de apenas 12% das bibliotecas
funcionam aos sábados, por exemplo. “A população economicamente ativa
não tem acesso à biblioteca e é isso que queremos mudar.O nosso modelo
tem capacidade real de transformar o perfil das bibliotecas no Brasil”,
promete o diretor. E já que as bibliotecas digitais nunca fecham,
funcionam sete dias por semana, 24 horas por dia, o executivo defende
que uma biblioteca que tinha 300 acessos por mês poderá ter 5 mil
usuários ativos.
A plataforma da Xeriph foi viabilizada depois da compra da empresa pelo Abril Mídia,
em maio passado. No projeto, foram empregados R$ 1,5 milhão e a
plataforma já está pronta, de acordo com Carlos Eduardo. “Já estamos em
negociação com uma grande empresa que tem operações dentro e fora do
Brasil e ainda com o sistema de bibliotecas de uma grande cidade
brasileira. Assim que fechar o contrato, colocamos a plataforma em
operação”, conta. Por questões contratuais, a Xeriph não pode ainda
revelar os nomes dos seus clientes em potencial.
Modelo de negócios
“A nossa grande missão era encontrar uma prática rentável para as
editoras”, conta Carlos Eduardo. Para chegar a um modelo de negócio que
atendesse esse demanda, foi criado um pool de dez editoras já clientes
da Xeriph. Durante oito meses, diversos modelos de negócios foram
submetidos a esses parceiros, que escolheram duas formas de vendas. Na
primeira delas, a biblioteca compra a plataforma e o acervo, a partir do
catálogo das editoras. Cada livro, comprado a preço de capa, poderá ser
emprestado para apenas um usuário por vez, por 14 dias. Findado o
prazo, o livro é compulsória e automaticamente devolvido. A segunda
opção é comprar a plataforma e ter os livros por subscrição, ou seja, a
biblioteca paga pelo acesso que seus usuários fazem ao livro. No modelo
de subscrição, a editora será remunerada pela audiência. Cada vez que um
livro for emprestado, a biblioteca paga uma taxa à Xeriph, 60% desse
valor é repassado às editoras. Nos dois casos, o usuário não pode fazer
mais de dez downloads ao mês e nem emprestar mais de 5 livros de uma só
vez. De acordo com Carlos Eduardo, essa é uma maneira de não atrapalhar o
negócio de livreiros.
A plataforma permite que quando o usuário clique no livro que tem
interesse, ele não vê apenas a capa, a sinopse e outros metadados, mas
também a fila de espera do livro. Se há mais de 25 pessoas na fila e
apenas um exemplar adquirido, isso implica que o 26º usuário vai ter que
esperar mais de um ano para ter acesso ao título desejado. Assim, o
bibliotecário pode tomar a decisão de comprar outros exemplares, isso
tudo de forma muito simples, a um clique. “A fila é um termômetro: uma
fila cada vez maiorpossibilita que as bibliotecas se tornem grandes
clientes para as editoras”, defende o diretor. Para utilização da
plataforma, foram criados aplicativos para iOS, Android, PC e Mac.
Árvore de Livros
O PublishNews adiantou, no final de janeiro, a criação da Árvore de
Livros, capitaneada por Galeno Amorim (ex Fundação Biblioteca
Nacional). Ao contrário da Biblioteca Xeriph, a Árvore é focada nas
escolas das redes públicas e privadas, mais especificamente nos alunos
de ensino fundamental 2 e médio. A plataforma, que deve entrar em
operação em março, vai cobrar uma assinatura anual de governos,
prefeituras, escolas e empresas para que seus usuários acessem de forma
ilimitada por meio de computadores, smartphones e tablets.
De acordo com material enviado às editoras e ao qual o PublishNews
teve acesso, a expectativa é adquirir acervo inicial de 200 mil e-books
para atender mais de 170 mil alunos.O modelo de negócios da Árvore de
Livros foi desenvolvido com base em estudos, pesquisas e comparações
feitas com modelos existentes no mundo. Foram feitas adaptações à
realidade e às peculiaridades do mercado nacional, e levou em conta o
perfil e as práticas leitoras vigentes nas bibliotecas e escolas do
País. Em resumo, a Árvore adquire pelo preço de mercado pelo menos um
e-book escolhido para compor o acervo da biblioteca digital de seus
clientes. O livro digital pode ser emprestado de forma simultânea e sua
licença de uso expira após 100 empréstimos. Cada vez que um usuário
tentar ler um e-book que está emprestado é gerada uma nova compra do
produto. Por exemplo, um livro adotado por uma rede de ensino que exija a
leitura simultânea de 5 mil alunos. Isso resultará na compra de 5 mil
e-book desse título.
Relatórios mensais vão servir de guia para acerto com as editoras
participantes do projeto. Além disso, a editora pode monitorar online e
em tempo real a quantidade de acesso e a leitura de seus títulos, além
de ter acesso a dados estatísticos sobre o desempenho e a preferência
dos usuários, formando um perfil de seus consumidores. Na apresentação
enviada aos editores, há um e-mail pelo qual editoras podem enviar
propostas: editoras@arvoredelivros.com.br.
Contraponto
Para José Castilho Marques Neto, secretário executivo do Plano
Nacional do Livro e Leitura (PNLL), essas iniciativas que começam a
aparecer no ambiente digital são muito bem-vindas, mas precisam ser
vistas com ressalvas. “Não podemos construir um fetiche em torno dessas
questões, nem dizer que são absolutamente importantes e nem dizer que
não são importantes”, comenta. Ele defende que, no que tangencia o PNLL,
sejam construídos, além de plataformas de acesso a e-books, programas
pedagógicos de incentivo à leitura. “Nenhuma biblioteca – seja digital
ou física – vai resolver o problema da leitura no Brasil”, comentou.
Castilho comenta ainda que não dá para “fazer marketing em cima
dessas iniciativas” e conclui: “No fim, pode ser um bom negócio para
quem produz, mas não vai ter o efeito desejado se não estiver dentro de
um planejamento mais amplo”.
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